sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Souza, Fluminense e a estrutura tática


É o que tento explicar desde 2008.


O problema do Grêmio não é propriamente o Souza, assim como, no Fluminense, não é propriamente o Deco.


O Deco, para futebol brasileiro, é craque. Mas um bom time não se forma com 11 craques. Um time com 11 craques pode funcionar menos que um time com 1 craque e 10 operários.


Questão de mecânica de jogo.


Um time mecanicamente perfeito com 10 craques e 1 operário pode sofrer muito mais com a perda do operário do que com a do craque.


Sem o Deco, o Fluminense tinha o Conca na melhor fase da carreira, talvez. Fernando Henrique; Leandro E., Gum e Andre Luis; Mariano, Diogo, Diguinho, Conca e Julio Cesar; Emerson e Fred (Washington). Cada um fazendo sua função. Era um time "perfeito". E todo mundo sabe que os zagueiros são medianos, Diogo saiu daqui escurraçado, Mariano perambulou por vários times e não se firmava, tendo quase saído do próprio Fluminense. E ainda assim formaram um time excelente.


Um dia o Fred se machucou. Entrou o Washington e o time continuou bem. Característica. A estrutura tática manteve-se a mesma. A chegada do Deco fez com que ele entrasse no lugar de um dos zagueiros. Mexeram na estrutura tática. Muricy tentou remediar, quando da lesão do Emerson, voltando com o terceiro zagueiro e jogando com 6 no meio. A estrutura tática continuava modificada. E continua. Daqui a alguns dias, o Emerson volta. O que o Muricy vai fazer? Provavelmente tirar um zagueiro, novamente. O correto seria transformar o Deco em Diguinho ou tirá-lo do time. Mas duvido que o faça.


Em 2008, o Grêmio, até meio sem querer, acertou um 3-5-2. Com o Roger, tínhamos um time extremamente dependente das condições do Roger. Era só ele que fazia gols. Ele participava de todos os gols. Um dia o Roger saiu. Achei que estava "tudo acabado". Mas aí veio o Tcheco e, por incrível que pareça, a entrada dele significou uma melhora brutal no coletivo. Todos passaram a jogar bem, o time passou a jogar bem. Mecanicamente passou a funcionar.


Com Victor; Léo, Pereira e Rever; Paulo Sérgio, Rafael Carioca, William Magrão, Tcheco e Helder; Perea e Marcel era líderes com boa folga no campeonato. Até que vieram dois jogos. Grenal da Sulamericana e Grêmio e Flamengo, no Rio. Dois jogos em que, efetivamente, o Souza apareceu bem. Antes disso, ele era o 12º jogador. Entrava sempre no segundo tempo no lugar do Perea, em geral, juntamente com Makelele e Reinaldo e o time crescia. E o Souza ia bem. Eu gostava do que via.


Aí no fim de um desses dois jogos o Souza foi Deco. Roth disse que teria que achar um lugar para o Souza no time. A má fase dos nossos alas pela esquerda fez com que ele fosse testado ali. Não rendeu. Depois, o Magrão se machucou. Makelele era a opção natural. Sempre entrava na do Magrão, quando necessário. Roth escolheu o Souza e mexeu na estrutura tática do time. A partir dali não nos recuperamos mais e perdemos o título.


Entendam, de uma vez por todas, o Souza por si só não é o grande problema do time de 2008, de 2009 ou de 2010. Nem o Deco é o problema do Fluminense. A utilização dele sim. Foi mal utilizado. Está sendo mal utilizado. A situação é irreversível. Não há como tirar dele no Grêmio o status que ele conquistou não sei porquê.


Uma estrutura tática pode não agüentar um campeonato todo, mas isso não significa que se deva altera-la radicalmente da noite para o dia. Principalmente, no momento em que esta estrutura está dando os melhores resultados. Roth o fez. Muricy está o fazendo. O Grêmio de 2008 não se salva mais. O Flu de 2010 ainda tem tempo. O Grêmio de 2010 tem solução ou, pelo menos, remédio. Do Souza eu desisti. Como ala ou meia extremo ele poderia render. Mas, repito, a situação dele me parece irreversível pelo status que ele atingiu.


M-E-C-Â-N-I-C-A. Não é por acaso que existe aquele jogador de uma temporada só. O jogador de um esquema só. O jogador de um time só. O jogador que só rende com um técnico. O futebol é menos simplista do que parece.


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